La missione di Bigene: 58 villaggi su 300 km quadrati

La missione di Bigene: 58 villaggi su 300 km quadrati
Il territorio della missione di Bigene: 58 villaggi su 300 km quadrati, a nord della Guinea-Bissau e confinante con il Senegal.

8 novembre 2012

Camminare con la Chiesa 13: Lettera Pastorale della Diocesi di Bissau, anno pastorale 2012/13

Ano pastoral 2012/2013

CARTA PASTORAL

REAVIVAR E TESTEMUNHAR A NOSSA FÉ

Às comunidades cristãs e a todas as pessoas de boa vontade,
A importância do Ano da Fé, proclamado pelo Santo Padre, leva-me a dirigir-vos uma Carta pastoral que visa, em primeiro lugar, contribuir para um forte empenho de todos na renovação da fé e da vida cristã e, em segundo lugar, reforçar o papel que nos cabe desempenhar como homens e mulheres de fé na sociedade de que fazemos parte.
O Ano da Fé , como afirma o Santo Padre, «quer contribuir para uma conversão renovada ao Senhor Jesus e à redescoberta da fé, para que todos os membros da Igreja sejam testemunhas credíveis e alegres do Senhor ressuscitado no mundo de hoje, capazes de indicar a "porta da fé" a tantas pessoas que estão em busca».
Para título das reflexões, que no início deste Ano da Fé levo até vós, escolhi este lema: “ Reavivar e testemunhar a nossa fé”.
Dado o momento histórico que estamos atravessando no nosso país, o caminho que temos a percorrer juntos apresenta-se cheio de dificuldades e desafios. Todavia, a determinação de os enfrentar incita-nos a renovar e a testemunhar a nossa fé.
Com a fé, animada pela esperança e caridade cristãs, vem o que chamamos espírito de fé. É a visão sobrenatural, profunda, serena e consoladora das realidades quotidianas à luz de Deus que é bom e providente; é a apreciação de tudo e de todos segundo os critérios evangélicos, de que são admirável síntese as bem-aventuranças; é a aceitação alegre dos trabalhos de cada dia e de cada hora como expressão concreta da vontade santificadora de Deus; é a imitação de Cristo e daqueles que a Igreja nos aponta como exemplos mais perfeitos e acessíveis dessa mesma imitação: a Santíssima Virgem e os Santos. Nesta linha, quão fecundo pode ser o Ano da Fé!
Que podemos esperar do Ano da Fé? Antes de mais, uma consciência mais clara no povo cristão de que esta virtude teologal é o primeiro radical dom de Deus ao homem na ordem da graça. Se a caridade revela e realiza o cristão, se a esperança o orienta e anima na vida, é a fé que o define como tal. Como dom, a fé deve pedir-se a Deus e deve também agradecer-se, cultivar-se e renovar-se. Se a fé não é alimentada, atrofia-se e pode morrer. O alimento da fé é a Palavra de Deus que se lê na Sagrada Escritura e se escuta nas leituras e proclamações bíblicas, que é pregada nas homilias e sermões, que é explicada nas catequeses, nos cursos e nas pequenas comunidades. Cresce a fé com o desenvolvimento da vida cristã, com a oração, a prática das virtudes e a frequência dos sacramentos.

I. REDESCOBRIR A FÉ CRISTÃ

Diante da profunda crise de fé, diante de uma perda do sentido religioso que constitui o maior desafio para a Igreja de hoje, a redescoberta da fé deve ser a prioridade no compromisso de toda a Igreja nos nossos dias. «Desejo que o Ano da fé possa contribuir, com a colaboração cordial de todos os componentes do Povo de Deus, para tornar Deus novamente presente neste mundo e para abrir os homens ao acesso da fé, ao confiar-se àquele Deus que nos amou até ao fim (Jo 13,1), em Jesus Cristo crucificado e ressuscitado» (Bento XVI, no lançamento do Ano da Fé – Porta Fidei).
Por isso, neste Ano da Fé convocado pelo Papa Bento XVI, um empenho particular de toda a Igreja será dedicado a reavivar e a aprofundar o conhecimento da doutrina católica, através da releitura e assimilação dos principais documentos do Concílio Vaticano II e do Catecismo da Igreja Católica.

1.1 O que é a fé?

A fé é o elemento central no cristianismo. O que é ter fé num mundo que não pergunta mais sobre a verdade das coisas, mas pergunta sobre a utilidade das coisas? Este mundo sem Deus quer viver dos factos concretos, visíveis, da competência e da eficiência pessoal... eu resolvo, eu decido....
A pessoa de fé, no entanto, confia naquilo que não é feito por ela, que não é visível, confia naquilo que é dado por um Outro. A fé dá um sentido profundo à existência e este sentido não pode ser construído ou comprado pelo homem, mas é recebido (dom). Na fé eu recebo o que não pensei e, por isso, tenho a necessidade de ouvir, ouvir o que Deus revela, ouvir a Palavra de Deus. «Escuta, Israel, o Senhor é o teu Deus, Ele é o único Deus» (Ex 6,4).
Na Bíblia, desde o Génesis que nos apresenta Abraão como exemplo paradigmático do homem de fé, até às passagens do Evangelho que levam Jesus a exclamar: «Foi a tua fé que te salvou»; «Nem em Israel vi tamanha fé»; «Homens de pouca fé»; «Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis àquela montanha que se movesse e ela obedecer-vos-ia…», tudo concorre para se ficar convencido da importância primordial da fé para alcançar a salvação e a vida eterna.
Ao longo da vida pública de Jesus, descrita nos quatro Evangelhos, a fé aparece como expressão da confiança em Deus, como adesão à Palavra de Deus, aos mistérios divinos, aos desígnios de misericórdia de Deus; como atitude básica de quem procura a salvação de Deus. Assim, na Bíblia, a fé é uma realidade mais rica e complexa do que a fé como virtude teologal, que a teologia clássica define como a adesão da mente, movida pelo impulso da graça, às verdades reveladas.
O Concílio Vaticano II foi bem claro, em vários dos seus documentos principais, ao dizer que a primeira missão da Igreja, e até mesmo a sua vocação, é levar a mensagem da salvação que faz despertar, amadurecer e elevar a graus sublimes da fé a todo o homem de boa vontade.
A fé é iniciativa de Deus. É Ele quem, primeiramente, nos ama e nos busca. Nós O encontramos definitivamente na sua Palavra. A fé é, portanto, um dom de Deus que nos é dado como proposta na sua Palavra. A fé acontece quando (e apenas quando) respondo à proposta de Deus. A fé tem dois aspectos interligados: a confiança pessoal em Deus e a aceitação (obediência) ao que Ele revela. «A fé é a atitude de quem está plantado no chão sólido da Palavra de Deus» (Bento XVI, 2005).
A Palavra de Deus tomou forma humana, fez-se carne em Jesus. Nele Deus se manifestou humanamente. Muitas vezes e de muitos modos, Deus falou aos nossos pais. Nestes últimos dias, diz a carta aos Hebreus (1,1-3a), falou-nos por meio do seu Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas (e pelo qual também criou o universo. Ele é o resplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser). Por isto nós cremos num Outro, num Tu, numa pessoa. O centro da nossa fé é Jesus, autor e consumador da fé (cfr. Hb 12,2). A fé cristã distingue-se da opinião, da crença, da ideologia e também da religião. Ela tem a ver com a Verdade e o Amor. O essencial na fé consiste na resposta confiante e no abandono a Deus que veio até nós em Jesus Cristo. Creio em Deus que se manifesta em Jesus Cristo. A fé consiste em seguir o que Jesus revela e em entregar-se livre e totalmente a Deus, oferecendo-se a Ele que se revela, com a submissão plena da inteligência e da vontade, dando voluntariamente assentimento à revelação que Deus nos fez (cfr. Dei Verbum, 5).
A fé cristã é uma atitude pessoal e livre, uma entrega amorosa e confiante a Deus, a partir da revelação que é transmitida viva e humanamente por Jesus Cristo, Deus presente. «Este é o meu Filho amado. Escutai-O» (Mc 9,7).

1.2 Os conteúdos da nossa fé

Pela fé, começamos a ver com os olhos de Deus o próprio Deus e tudo quanto saiu das suas mãos. Só ela pode dar-nos o verdadeiro sentido do mundo e da vida, pois só ela nos abre à ordem sobrenatural, a única que realmente conta. Pela fé conhecemos em Cristo o Verbo de Deus e Deus verdadeiro traduzido em linguagem humana, a revelar-nos o Pai, e pelo Pai enviado a salvar-nos. E em Cristo encontramos a explicação única das grandes realidades que nos podem interessar e tantas vezes nos preocupam: a nossa origem e destino, as nossas contradições internas e as do mundo; o mal e o bem, o pecado e a virtude, ânsia de felicidade e o sofrimento, o desejo de viver e a morte… sem fé, tudo isto é incompreensível, tudo isto se torna absurdo.
A fé, adesão a Cristo, abre-nos para todos os mistérios cristãos, para aquelas virtudes que maravilham, confortam e dinamizam os santos, verdades resumidas no «Credo» que proclamamos nas assembleias dominicais. É o mistério da vida íntima de um Deus uno no inefável convívio de três Pessoas; é a criação do universo e do homem, saída por amor das mãos de Deus; é o pecado e a redenção pela morte e ressurreição de Cristo; é toda a «História da Salvação» com os longos antecedentes da Aliança Antiga, com a passagem pela terra e pelo Calvário do Redentor, com a sua presença continuada na Igreja que o Espírito Santo anima na sua obra até ao fim do mundo; e toda a vida cristã com as realidades deste tempo e da eternidade. Aprofundar estas verdades, vivê-las, proclamá-las, eis o inesgotável filão a explorar ao longo do Ano da Fé.

II. RENOVAR E TESTEMUNHAR A NOSSA FÉ

Ser cristão não é apenas ter um nome adquirido no dia do baptismo ou participar em cerimónias ou ritos que se têm de cumprir. Infelizmente muitos cristãos ficam-se por aqui, não se preocupando em transformar as suas vidas de modo a serem em Cristo homens novos na sua maneira de pensar e agir, assumindo na sua vida um comportamento digno do baptismo que receberam. A fé cristã, para ser autêntica, tem de ser posta em prática e manifestar-se, de uma forma coerente e responsável, em todos os momentos e situações. A fé cristã tem de ser vivida na Igreja, em casa, na família, na escola, no trabalho, na economia, no comércio, na política, nas diversões, na vida social, em tudo quanto dizemos e fazemos ao longo de todas as horas, dias e anos.
Se pela fé aderimos a Jesus Cristo como Salvador, temos necessariamente de aceitar viver o conjunto da sua mensagem e doutrina, observando todas as exigências de uma vida nova em Cristo. Isto implica a escuta, a vivência e a proclamação da Palavra de Deus, a participação habitual na vida sacramental, o assumir a caridade como norma do nosso comportamento. Estes três aspectos estão de tal maneira unidos que, sem o cumprimento de um deles, a vida cristã fica falseada e incompleta.

2.1. Aprofundar a fé

A fé sustenta-se pela Palavra de Deus. Precisamos dela mais do que o pão ou o arroz para o corpo. Como podemos nós enfrentar os problemas e as interrogações que a vida nos põe sem o apoio esclarecedor da Palavra de Deus? Ela é vida, força e amparo. Veneremos o Livro Santo. Descubramos nele os caminhos que Deus, Nosso Pai, nos aponta para alcançarmos, em Jesus Cristo, o bem e a felicidade. É necessário que a leitura, a meditação e o estudo da Sagrada Escritura se tornem uma prática habitual nas nossas vidas. Com pesar, forçoso nos é reconhecer quão distantes estamos desta necessidade!
Pela catequese as crianças, os jovens e os adultos são iniciados no conhecimento de Jesus Cristo e da sua mensagem de salvação. Da descoberta que pouco a pouco vão fazendo de Deus, nasce neles a fé e o desejo ardente de seguir o caminho cristão, no seio da Igreja. A catequese é obra de toda a comunidade cristã e por todos deve ser acarinhada. Sobre os párocos e os catequistas, porém, recai uma responsabilidade acrescida que devem estimar e valorizar. Lembrem-se que a catequese é um ministério que não se exerce com improvisações e desleixo, mas com cuidada preparação e regular presença junto dos catequizandos, acompanhadas pelo testemunho de fé e de vida.
A fé, sendo um dom de Deus e uma resposta que nasce do coração do homem, é também, por sua vez, alimentada e fortificada pelo esforço que cada um faz em aprofundar e melhor conhecer os seus conteúdos. Muitos cristãos contentam-se apenas com o que aprenderam na catequese como preparação para o baptismo. É alguma coisa mas, é preciso muito mais. A fé, como a vida de cada um, não pode deter-se na sua fase inicial. Ela tem de crescer e de se tornar adulta.
A formação permanente dos cristãos é fundamental e imprescindível para a vivência do cristianismo e para a nossa capacidade de testemunho e intervenção na sociedade. Sempre assim foi no passado, mas torna-se ainda mais necessário nos dias de hoje, dada a multiplicidade de situações com que somos confrontados e as perguntas que o mundo moderno nos coloca. Felizmente, no nosso país, a escolaridade vai aumentando e já são bastantes os que têm acesso a cursos qualificados e ao ensino superior. Muitos desses novos quadros são cristãos, mas infelizmente a sua formação religiosa mantém-se a um nível muito rudimentar. Há, pois, que fazer um esforço muito grande para que a situação se altere. A formação dos leigos constitui uma prioridade pastoral na Diocese.
A Igreja reconhece e aprecia as tradições culturais de todos os povos. É dentro delas que o cristianismo tem de ser vivido. Assim deve ser na Guiné-Bissau. No esforço de renovação cristã temos de prestar cuidada atenção a este aspecto fundamental da nossa identidade cristã dentro da Igreja. Seremos tanto melhores cristãos quanto melhor encarnarmos Jesus Cristo e a sua mensagem libertadora na nossa cultura.
O esforço de encarnação ou de inculturação exige, para além da valorização dos muitos aspectos culturais positivos, o discernimento para corrigir ou excluir os aspectos que não se conformam com as verdades da nossa fé, acima expostas (cfr. Africae Munus, 92). Cristo veio criar um homem novo. Esta novidade implica, entre muitas coisas, o abandono de crenças e práticas que contrariam a força, o poder e o domínio de Deus sobre todas as coisas. Alguns cristãos, por exemplo, manifestam dificuldades em se desfazerem da crença nos irãs e nas cerimónias que lhes são associadas, levando uma vida dupla: umas vezes são cristãos, outras vezes são pagãos (cfr. Africae Munus, 93). Não deve ser assim. Para desfrutarmos do gozo e da alegria plena da vida nova em Cristo, temos de pôr Nele a nossa inteira confiança, reconhecer o seu poder soberano e entregar-nos à sua acção protectora. A fé, se for vivida com profundidade e autenticidade, é fonte de bem-estar interior e de serena atitude perante as dificuldades da vida, sem medos nem pavores.

2.2.Viver os sacramentos e rezar

A fé conduz-nos aos sacramentos, e particularmente à eucaristia. Damos graças a Deus pelo empenho posto pelas comunidades na celebração dos sacramentos. Todavia, é necessário redobrar esforço pastoral para que os cristãos não se fiquem apenas pelos aspectos exteriores dos ritos, mas entendam o que eles significam. A liturgia celebra os mistérios da nossa salvação e envolve, em Cristo, a totalidade das nossas vidas. A liturgia é louvor, acção de graças, agradecimento, comunhão. A liturgia é festa. E a festa, para acontecer, requer que o quotidiano das nossas vidas decorra no amor, na solidariedade e no serviço aos irmãos. A liturgia é também compromisso a agirmos santamente e a sermos bons aos olhos de Deus e dos homens.
Na tradição cristã a participação na missa aos domingos e dias santos tornou-se uma obrigação para todos os fiéis. Constatamos que, com a maior das facilidades e sob qualquer pretexto, os cristãos não cumprem este dever. Ou porque há “choro”, ou porque estão de viagem, ou porque têm hóspedes em casa, ou porque têm um trabalho a fazer. A lista de razões é muito extensa. A participação na missa parece estar reservada para quando se está de folga ou não há outra coisa a fazer. Não deve ser assim. A missa é um sacramento essencial e imprescindível na vida de todo o cristão. Mais do que uma obrigação ela é uma necessidade, um mistério sem o qual não podemos passar. A missa é o coração da vida cristã. Só em caso de força maior e quando nos for de todo impossível nos podemos sentir dispensados de nela participar. O domingo é um dia santificado. É o dia do Senhor.
Um outro sacramento que deve merecer a nossa atenção neste Ano da Fé é o da penitência, também chamado da confissão ou da reconciliação. Na nossa vida estamos sujeitos à tentação e, por isso, uma que outra vez caímos no pecado que nos afasta de Deus e dos irmãos. Este afastamento leva-nos a que não possamos, por exemplo, comungar, se estivermos numa situação de pecado grave. Muitos cristãos não se dão conta disso e aproximam-se da comunhão quando não estão em condições de o fazer. É necessário reparar este erro. Para readquirirmos a amizade perdida com a ofensa provocada pelo pecado temos de nos arrepender e implorar de Deus o perdão, recorrendo ao sacramento da penitência. Devemos recorrer ao sacramento da penitência quando nos encontramos na necessidade de o fazer e não esperar pelas celebrações comunitárias da penitência.
Uma das exigências da fé cristã não assumida por muitos baptizados diz respeito ao casamento. Por falta de meios económicos, por falta de coragem, por medo ou por outras razões, iniciam e mantêm uma vida matrimonial fora do casamento cristão. O compromisso cristão é exigente mas é libertador. Neste Ano da Fé exorto vivamente os casais que se encontram nesta situação e que se mantêm monogâmicos (isto é, um só homem e uma só mulher), a que regularizem a sua situação diante de Deus e da Igreja. O sacramento do matrimónio é fonte de bênçãos para o casal e para os filhos. Aos jovens, em particular, lanço um veemente apelo a que conformem a sua opção matrimonial pela Lei de Deus. Que tenham coragem de assumir a totalidade do caminho cristão para felicidade própria e benefício da família que fundam.
A fé é adoração, oração, contemplação do Deus que nos criou e se manifesta como nosso Pai. A oração é uma dimensão fundamental da vida cristã. Temos necessidade de rezar, de encher a nossa vida da presença de Deus, de fazer da nossa oração um momento privilegiado de diálogo e intimidade com Deus. Saibamos recolher-nos no silêncio dos nossos corações para falar com Deus e, sobretudo, para ouvir o que Deus tem para nos dizer. Valorizemos a oração individual e comunitária, a qual, pela sua própria natureza, fomenta a comunhão com Deus e os irmãos, revigora as nossas forças e impele-nos à compreensão, ao perdão e ao amor para com todos. Rezemos no interior das nossas casas. Rezemos no interior das famílias. Façamos da nossa vida uma contínua oração.

2.3 Fortificar o amor

Deus é amor, como diz S. João (1Jo 4,9) e tudo o que por nós faz é fruto desse amor. Também nós somos chamados a amar no seguimento de Jesus Cristo que nos amou até ao extremo de dar a sua vida por nós. O amor a Deus passa e concretiza-se no amor manifestado para com os irmãos. Esta é a lei suprema do cristão.
A caridade, podemos dizê-lo, é o termómetro com que se mede a fé duma comunidade cristã e a fé de cada um dos seus membros. Aos olhos do mundo, ela é a nossa carta de identificação. O amor é acolhimento, disponibilidade, solidariedade, serviço. Serviço à comunidade cristã e à humana em geral. O serviço cristão é testemunho, compromisso, intervenção.
Na comunidade cristã todos são chamados a servir de forma a se tornarem corresponsáveis da vida e das tarefas ou ministérios da mesma comunidade. Uma comunidade só o é de facto se todos os seus membros se mantiverem unidos e actuarem como um corpo, no qual cada um dos seus membros tem uma função a desempenhar. Na Igreja todo o serviço é um acto de amor. Mas para que esse acto de amor produza os frutos desejados é necessária a entrega do coração e, em alguns casos, uma preparação adequada. Cuidemos desta preparação para valorizar as capacidades e o trabalho dos irmãos na catequese, na liturgia, na pastoral sóciocaritativa e em todos os outros serviços necessários para o normal funcionamento das comunidades.
O serviço cristão não se limita às próprias comunidades. Ele estende-se a todos os homens sem discriminações de qualquer espécie. Todavia, a exemplo de Cristo, são os pobres, os mais necessitados e pequeninos os que devem merecer maior atenção, dedicação e carinho. Embora as comunidades não tenham descurado esta preocupação, é nosso dever incrementá-la sempre mais. A “Caritas”, que neste momento se procura implementar e estruturar devidamente nas nossas paróquias, constitui um valioso meio institucional para o desempenho do serviço sóciocaritativo.

2.4 Ser fermento na sociedade

A fé em Deus e no que Ele nos revela, numa entrega cada vez mais intensa ao seu amor, é também motor de crescimento da sociedade. Quando se retira Deus da vida pessoal e social, é fácil cair no desumanismo; a ausência de Deus, fundamento para a convivência pacífica entre os seres humanos, é consequência da ausência de um mundo mais humano, fraterno, respeitoso, solidário; o mundo que todos desejamos e com o qual sonhamos.
Os cristãos são membros da sociedade. A vida nova a que são chamados a viver em Cristo não os afasta da comunidade humana, antes os impulsiona à solidariedade e à participação activa nas preocupações e esforços que visam a construção de um mundo novo, mais justo e mais fraterno.
Por razões da fé que professam e proclamam, os cristãos devem demonstrar com coerência a validade das suas convicções no quotidiano da sua vida, em todas as áreas da actividade humana, nomeadamente económica e política.
A reconciliação, justiça e paz constituem anseios e conquistas permanentes de todos os povos. Na nossa terra, o espírito de diálogo, de paz e de reconciliação ainda está longe de habitar os nossos corações. Os conflitos ainda dominam as nossas relações. Por isso os cristãos devem trabalhar para que a nossa terra se torne para todos um lugar autêntico de reconciliação e de perdão, que Cristo trouxe não somente à Igreja, mas à humanidade inteira.
Além disso, os cristãos devem também dar testemunho da sua fé através da promoção da justiça e da paz «Bem-aventurados os construtores da paz porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu» (Mt 5,9-10). Os cristãos têm o direito e o dever de participar na edificação duma sociedade justa, reconciliada e pacífica.
Para vencermos muitos dos desafios que a nossa sociedade nos apresenta hoje, devemos reforçar o nosso testemunho cristão, mandato confiado por Jesus aos apóstolos e a todos os cristãos: «Sereis minhas testemunhas até às extremidades da terra» (Act 1,8), «Vós sois o sal da terra, vós sois a luz do mundo» (Mt 5,14-16). O mundo de hoje precisa mais de testemunhas do que de mestres, dizia o Papa Paulo VI! E no limiar do terceiro milénio o agora Beato João Paulo II nos lembrava vigorosamente que o desafio dos desafios reside no testemunho da santidade. Quanto mais os cristãos reflectirem os valores evangélicos, tanto mais estarão à altura de construir o Reino de Deus inaugurado por Cristo.
Reflectir a santidade de Deus e ser fermento do mundo novo. Os cristãos devem, antes de tudo, deixar-se evangelizar e converter-se totalmente ao Senhor, conhecer e amar cada vez mais Jesus e configurar-se a Ele. É nesta condição que eles poderão contribuir para a conversão transfiguradora da nossa sociedade, levando-a a abrir-se ao plano salvífico de Deus.
A renovação do coração do homem no mais íntimo de si mesmo é a condição para renovar as relações dos homens com Deus, dos homens entre si e dos homens com a criação inteira. É esta renovação da nossa fé em Cristo que permitirá a construção do Reino de Deus para a transformação da nossa sociedade, em busca de reconciliação, de justiça, de paz e de bem-estar.

III. PROGRAMAÇÃO DO ANO DA FÉ

Para concretizar os objectivos do Ano da Fé, além das indicações da Nota da Congregação para Doutrina da Fé, o Secretariado Diocesano de Pastoral, acordou na sua reunião de 27-28 de Junho de 2012, no seguinte programa, que não exclui, antes deve suscitar outras iniciativas no âmbito da Diocese, paróquias e outras instituições:
13 de Outubro de 2012- Abertura do Ano da Fé com Santa Missa, às 10h00, na Sé Catedral, sob a presidência do Bispo da Diocese e com a participação do presbitério, seminaristas, religiosos e religiosas, laicado responsável e fiéis em geral, com a proclamação solene do «Credo».
16-17 de Outubro de 2012- Formação permanente com Reflexão sobre os documentos do Concílio Vaticano II e do Catecismo da Igreja Católica.
08 de Dezembro de 2012- Peregrinação Nacional ao Santuário Mariano de Cacheu, sob o lema: “Maria, djudanu kirsi na fé”.
10-14 de Dezembro de 2012- Retiro espiritual em NDame para o pessoal missionário.
18 de Dezembro de 2012- Formação permanente sobre Missão Evangelizadora no mundo de hoje.
05 de Março de 2013- Formação permanente sobre Fé, Ecumenismo e Diálogo Interreligioso.
28 de Maio de2013- Formação permanente sobre Catecismo da Igreja Católica na preocupação da Pastoral Ordinária da Igreja.
23 de Novembro de 2013- Conclusão do Ano da Fé, na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, com a Santa Missa, às 10h00, na Sé Catedral, presidida pelo Bispo da Diocese, na qual se renovará solenemente a profissão da fé.

CONCLUSÃO

Caríssimos diocesanos, o Ano da Fé é um “ano de graça” que devemos aproveitar para aprofundar e revigorar a nossa fé, alimentar a nossa esperança, incrementar a nossa caridade e fortalecer os laços de comunhão com Deus e com os irmãos, percorrendo os caminhos da conversão e da reconciliação.
Mostremos a todos a força e a beleza da fé. Que este ano seja um tempo de renovação e de redescoberta da fé na família e na comunidade. Só acreditando é que a fé cresce e se revigora. Ela torna-nos fecundos porque alarga o coração com a esperança e nos leva à prática da caridade. Celebremos a fé confessando-a solenemente de variadas formas e nos diversos lugares (na família, na escola, na política, no grupo, na comunidade). Descubramos novamente os conteúdos da fé... reflictamos sobre o próprio acto com que se crê e professemos pessoal e comunitariamente as verdades que nossa fé encerra.
Se nos empenharmos nestes objectivos, estaremos, certamente, a contribuir, pela renovação da nossa vida cristã, para que nos apresentemos como “sinal de genuína esperança” diante de todos quantos, no nosso país, põem os olhos em nós.
Para todos imploro de Deus, por intercessão de Maria nossa Mãe, a fé, a paz, o amor, a reconciliação, a esperança e as melhores bênçãos. Para todos um bom Ano da Fé!

Bissau, 08 de Outubro de 2012

Dom José Câmnate na Bissign

Bispo de Bissau)